No início do mês de março, retornei com minha família à Itá. Estávamos em Curitiba, e fomos visitar o Parque Barigui, onde meu filho Daniel viu uma pipa e foi logo pedindo “papai compra uma pra mim” resisti no inicio, mas logo cedi aos apelos dele. Compramos uma pipa em forma de águia.
Fomos empiná-la, mas para nosso desespero, nada de vento. Insistimos e logo fomos recompensados por uma leve brisa, que logo tornou-se um vento de boa velocidade e conseguimos nos divertir.
Antes de retornarmos para Itá, compramos outra pipa, para levar de presente para o Rafael, meu sobrinho, então, num final de tarde resolvemos ir empinar as pipas. Por sugestão dos dois (Daniel e Rafael) fomos ao campo da escola. O vento era bom, mas como o campo era rodeado de árvores, acabou que no campo o vento era mínimo. Decidi empinar na rua próxima ao campo e a zona rural, por não possuir cabeamento elétrico. Esperei por uma leve brisa e logo empinei a pipa do Daniel, mas tinha um problema estávamos muito próximos das árvores, qualquer descuido poder-se-ia enroscar a linha num galho de árvore e teríamos uma tragédia em termos de controle e resgate da pipa.
Então, passei a o controle da pipa ao Daniel e disse: “Filho, controla a pipa e cuide para não enroscar nas árvores, enquanto o papai vai ajudar o Rafael empinar a dele”. Por um momento fui ao campo onde o Rafael insistia em empinar a pipa, sem êxito, por não haver vento. Comentei com ele: “vamos até a rua, o Daniel já está com a dele no ar”. Dirigimos-nos à rua, e ao chegar junto de meu filho, o vi com o rosto preocupado, com uma expressão de não consegui fazer o que me pediu, me olhou e disse: “papai, não consegui controlar e ela enroscou na árvore. Perdi minha pipa” em tom desolado.
Por um tempo tentei desenroscar a linha, porém, em vão. Então, parti para uma segunda estratégia, pedi emprestada a pipa do Rafael e procurei enlaçar a linha da outra, consegui, mas o vento era forte e acabou por partir a linha da pipa do Rafael, embrenhei-me mato adentro para resgatar, agora, a pipa do Rafael. Uma vez resgatada, desisti da idéia de enlaçar novamente a outra pipa, nisso, meu filho deixa escapar a linha e vê suas esperanças esvanecerem diante do fato, no entanto, a pipa fica presa no topo da árvore pelo carretel. Olhei, desanimado, porque a priori a única forma de resgate seria subir na árvore. Analisei a possibilidade, o tipo de árvore, a altura e conclui que não valia o risco o resgate. Nessa altura meu filho, já estava em casa lamentando-se para sua mãe, que segundo ela, desabafou “deu tudo errado”.
Fiquei triste por meu filho, primeiro por ele perder o brinquedo e segundo, por me sentir impotente para o resgate de seu brinquedo. Tentei consolá-lo, dizendo: “Não esquenta filho, o papai compra outra para você, assim que retornar a Curitiba”. Contudo, eu estava desolado. Fui tomar chimarrão com minha esposa e familiares e de nossa área podia enxergar a pipa a deslizar ao sabor do vento. Estava tão alta e sua forma de águia parecia desafiar-me a resgatá-la. Passado esse momento, juntou um bom número de garotos ao redor da árvore tecendo formas de resgatá-la, no entanto, a prudência recomendava não subir na árvore em questão, principalmente sem equipamento apropriado para escalar. E graças a Deus, ninguém ousou subir.
Mais tarde, comentei com minha esposa: “à noite o vento pode diminuir sua intensidade, até mesmo parar e certamente ela não terá sustentação e cairá. Dependendo do local e tempo certo, pela manhã poderei efetuar o resgate dela”. Então, pela manhã chamei meu filho, tomamos um banho “acorda preguiçoso” em seguida fui deixá-lo na escola. Não lhe contei meus planos “caso não conseguisse resgatar a pipa, não teria alimentado esperanças”. Contudo, eu estava obstinado a resgatar a pipa. Despedi meu filho para aula e fui à busca da pipa. Chegando ao local presumível que ela tivesse pousado, constatei que a mesma estava presa a uma árvore de pequeno porte, quase a altura das mãos. Fiz o resgate dela, levei para casa e deixei-a exposta na área para que meu filho pudesse vê-la ao chegar da escola e eu pudesse ver a alegria nos olhos dele ao ver sua pipa resgatada.
O episódio remeteu meus pensamentos às estratégias de Deus no resgate: de vidas, de situações adversas, de relacionamentos... Tantas vezes pensamos que pessoas, situações, relacionamentos não tem mais solução, é caso perdido. Olhamos os fatos, analisamos as possibilidades e concluímos que é impossível. No entanto, Deus nos ensina que o inatingível, por vezes, fica ao alcance das mãos. Basta esperamos o tempo oportuno.
Ivan Aralde